quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Em seu desejo de substituir o dualismo ocidental com um novo holismo, a Nova Era tomou um rumo que muitos chamariam de "junguiano". Entretanto, Jung contrasta fortemente dois diferentes tipos ou modelos de totalidade:O primeiro é o que ele chama de totalidade pré-consciente, a totalidade do universo primordial e amorfo, indiferenciado como uma sopa, e que existiria antes da própria consciência. Nela os pares de opostos estão fundidos (não porque foram unidos em uma totalidade maior, mas porque ainda não foram diferenciados uns de outros). Tudo é "um" porque os "muitos", e os conflitantes pares de opostos que constituem os muitos, ainda não foram trazidos à existência. Jung identifica esta totalidade original com o arquétipo da Grande Mãe, e estes que procuram o incestuoso "retorno à mãe" estão dispostos a idealizar esta condição primeva. Neumann desenvolveu a hipótese de Jung da "grande roda" chamando a este símbolo o Uroboros, ou a serpente que morde o próprio rabo.
Em contraste, Jung postulou (e defendeu) um segundo tipo de totalidade, a Totalidade Consciente, na qual os pares de opostos, separados pelo advento de uma consciência polarizada e unilateral, tornam-se novamente juntos em uma unidade relativa. Esta totalidade, ele sentiu, é o objetivo e ponto-final da realização consciente. O foco dela é de que a integridade e identidade dos opostos está mantida e respeitada. Totalidade consciente não é um caos semelhante a uma sopa, mas uma unidade claramente diferenciada na qual todas as diferenças e distinções básicas têm sido honradas, vividas e reconciliadas: "Sem a experiência dos opostos não há experiência de totalidade", dizia Jung, que viu na Mandala oriental um "círculo mágico" no qual são preservadas a integridade das formas de vida, das estruturas geométricas e das figuras sagradas, como símbolo da totalidade diferenciada que ele tanto admirava.
A Nova Era advoga um retorno à Mãe do Mundo, e sua ânsia por unidade é a ânsia do infante pela unidade com a mãe. A Nova Era não se vê como herdeira da cultura ou da história do Ocidente, e não está interessada em "completar" esta história, mas meramente em suprimi-la. A Nova Era não afirma o passado, mas quer começar tudo de novo, construir um futuro mais brilhante, menos trágico, e está cansada do embate dos opostos que constitui tanto de nossa história. Jung argumentaria que não se pode falar de totalidade até que a escuridão ou "sombra" da natureza humana tenha sido maduramente aceita e integrada. Eis aqui onde a Nova Era trai seu infantilismo e sua fingida "totalidade", porque o lado escuro da natureza humana é quase sistematicamente ignorado. A Nova Era está voando da escuridão e da realidade do mal, vendo a escuridão meramente como a ausência de luz.
A era cristã promoveu uma ética de perfeição em sua ênfase sobre a figura de Jesus Cristo, mas uma era genuinamente nova ou vindoura estará, para Jung, baseada sobre uma ética da totalidade, cujo foco não será Jesus, mas o Espírito Santo: "O Espírito Santo é uma reconciliação de opostos, e daí a resposta ao sofrimento no Ente Supremo que Cristo personifica". Uma Nova Era do Espírito, de acordo com Jung, apresentará não a segunda vinda de um Cristo humano, mas "a revelação do Espírito Santo a partir do próprio homem". A Era Vindoura não destruirá o Cristianismo, substituindo-o com paganismo, mas transcenderá o Cristianismo histórico substituindo a imitação de Cristo pela experiência direta e vivente do Espírito Santo. O próprio Cristo insinuou (João 16:7-13) que o Espírito Santo ou Confortador viria depois dele, não apenas para derramar as línguas do Pentecostes sobre seus discípulos, mas para impregnar toda a humanidade com o "espírito da verdade". Para Jung, portanto, uma compreensão correta da totalidade é essencial não apenas para nossa saúde psicológica pessoal, nosso bem-estar moral e ético, e nosso senso humano de sentido da vida, mas é o padrão pelo qual participamos na auto-evolução do divino. É por isto que Jung insiste através de seus escritos que nós devemos manter a tensão entre os opostos e nos movermos adiante; não devemos relaxar a tensão de modo que os opostos percam sua definição e retornem ao uroboros primevo (a tal sopa primordial): "Sem oposição não há fluxo de energia, não há vitalidade. A falta de oposição leva a vida a uma estagnação aonde quer que tal falta alcance". Jung não era um guru da Nova Era que pregava profundo relaxamento e a dissolução do estresse, mas pelo contrário, ele implorava aos outros para permanecerem conscientes de divisões, fortalecer isso, e manter os opostos em relação dinâmica. Somente então poderá a "função transcendente", que em metapsicologia junguiana seria o Confortador ou Paracleto, vir em nosso auxílio e tornar suportável a carga que estamos carregando.

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.(Mateus 16:24)

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